Do Caos à Ordem em Nosso Mundo Interior
Nossas crenças nos dão vitórias ou derrotas antes mesmo de tomarmos qualquer atitude ou ação.
TRANSFORMAÇÃO PESSOALMENTETRILHAS MENTAISDIÁLOGO INTERIOR


A base da criação do mundo expressa no livro de Genesis é simples: através da palavra, Deus toma controle sobre o caos primordial e dá forma ao mundo.
Deus toma a Terra, sem forma e vazia, e através de uma série de pronunciamentos a molda, define e organiza, elevando-a de um estado caótico a um estado de ordem. Somente assim a vida, a beleza e o crescimento são possíveis.
A formação do mundo descrita não foi um processo espontâneo, que chegaria à sua conclusão naturalmente, mas foi um ação intencional de Deus, com o propósito específico de estabelecer seu governo. Sem essa intervenção, o mundo nunca passaria de uma mistura informe de água, lama e escuridão.
Da mesma forma, a nossa vida não se organiza espontaneamente, chegando a um estado de graça e equilíbrio a partir do nada; mas somente pode ser moldada se estabelecermos nosso governo e autoridade sobre ela, definindo-a.
A maior parte das pessoas vive de forma semiautomática, desempenhando suas rotinas diárias sem nunca tomar atitudes de governo e controle sobre elas. Abdicamos deste controle muitas vezes de forma inconsciente, mas também muitas vezes por acreditarmos que não existe outra alternativa.
Entretanto, a chave que abre toda a potencialidade de nossas vidas é a mesma relatada em Genesis: usar o poder das palavras para ordenar, definir e agir.
As palavras mais importantes em nossas vidas são aquelas que mais ouvimos: o nosso diálogo interior incessante. Esse diálogo pode parecer aleatório, mas se pararmos para prestar atenção, veremos que ele se resume a alguns temas em repetição constante.
Estas repetições são as nossas crenças, o que acreditamos sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor. Quer queiramos ou não, elas definem nossa visão do futuro e, portanto, nossas potencialidades no mundo.
Uma pessoa que acredita ser fraca jamais tentará levantar um saco de cimento. Um pessoa que acredita não ser inteligente, jamais tentará aprender um novo idioma. O que acreditamos sobre nós mesmos nos limita ou nos liberta.
Nossas crenças nos dão vitórias ou derrotas antes mesmo de tomarmos qualquer atitude ou ação. Elas definem a extensão do nosso mundo e colocam limites no que podemos fazer. O verdadeiro empoderamento pessoal vem da aquisição de crenças que possibilitem a expansão da nossa atuação no mundo.
No entanto, ao tentarmos encontrar a fonte das nossas crenças, muitas vezes entramos em um beco sem saída. Algumas destas concepções nós podemos identificar como sendo originárias de nossa infância, outras de nossas experiências e outras mesmo da nossa cultura. Outras nunca saberemos de onde vieram.
Elas formam uma mistura informe em nossa mente, completamente fundidas e mescladas, de forma que é difícil até mesmo defini-las e nomeá-las. Elas formam um pano de fundo mental que nem mesmo percebemos que está lá.
Esse conjunto enorme de pontos de vista pode ser tão intimidador que jamais sequer tentamos tomar controle sobre ele. A submissão irrefletida a este amontoado de crenças gera o estado mental evocado por Dorival Caymmi na canção Modinha para Gabriela:
Eu nasci assim, eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela, sempre Gabriela
A submissão à aparente imutabilidade da realidade interior alimenta um estado mental e emocional onde mudanças são quase impossíveis. Já ouvimos esta concepção expressada de inúmeros maneiras por nós mesmos e por pessoas à nossa volta:
‘Afinal, esta é a minha natureza, certo?’
‘Quem pode lutar contra seu próprio jeito de ser?’
‘Está no meu DNA!’
‘Italiano tem sangue quente!’
‘Minha avó era assim, a minha mãe é assim, eu sou assim...’
Estas convicções são especialmente reforçadas através de nossa cultura, músicas, filmes, novelas e artistas que admiramos e ouvimos com frequência:
‘Pau que nasce torto nunca se endireita.’
‘Esse menino não tem jeito.’
‘Filho de peixe, peixinho é.’
Muitas pessoas têm a crença que suas reações emocionais automáticas são parte integral de seus temperamentos, e, portanto, completamente fora do seu controle. Afinal, se a pessoa não pode controlar suas emoções, ela também não é responsável pela forma como sua depressão, agressividade, ansiedade ou raiva afetam as pessoas à sua volta.
A verdade é que nós somos profundamente responsáveis pelo que fazemos com nossas emoções. O único poder que elas tem é aquele que damos a elas. Emoções são um estado passageiro e não quem nós somos intimamente. Elas tem um início no tempo e também um fim. Nós não somos nossas emoções.
É necessário entendermos que temos a responsabilidade por nossas vidas: aprender a assumir a responsabilidade pelo que fazemos e pelo que acontece conosco. É muito mais fácil culpar os outros pelos problemas da nossa vida, mas fazer isto nos tira o poder de mudá-la. Afinal, se os outros são os culpados, o que nós podemos fazer? Nada!